UFPI 50 Anos: Instalação da Universidade muda paisagem e melhora infraestrutura do bairro Ininga
Até a década de 1970, o acesso ao bairro Ininga, onde está hoje o Campus Ministro Petrônio Portella da Universidade Federal do Piauí, era muito precário. O bairro ainda conservava aspectos rurais, como fazenda e cerâmica, e a via de acesso não era pavimentada. A Avenida Nossa Senhora de Fátima acabava onde é hoje a Igreja Nossa Senhora de Fátima, o prolongamento foi feito para atender a necessidade de facilidade de acesso ao Campus, ainda em construção.
Em 1971, quando foi criada a UFPI, as faculdades de Direito, Medicina, Odontologia, Filosofia e Administração continuaram a funcionar em seus locais de origem. A mudança para o Campus Ministro Petrônio Portella ocorreria em 1973, com a construção dos galpões. A notícia da instalação e início das obras movimentaram a região.
Segundo a pesquisadora Cristina Cunha de Araújo, o Campus da Universidade trouxe aspectos urbanos, valorização dos imóveis e melhoria na infraestrutura do bairro Ininga e dos outros bairros próximos. Foram construídos casas e estabelecimentos comerciais que atraíram novos moradores e as ações da prefeitura passaram a ser mais constantes na área. Até a publicidade passou a relacionar os empreendimentos residenciais com a proximidade da UFPI.
O prefeito na época era Joel Silva Ribeiro (1971-1975), pai do professor da UFPI, Ricardo Alaggio Ribeiro, do Departamento de Ciências Econômicas/CCHL. O professor lembra que a pavimentação e o prolongamento da Avenida Nossa Senhora de Fátima foram feitos em pouco tempo, considerando a dimensão do trecho.
Para dar início à obra, o prefeito Joel Ribeiro negociou com o então arcebispo Dom Brandão Avelar e depois com o sucessor Dom José Freire Falcão para retirar a igreja que ficava no meio da avenida e construí-la onde é atualmente. “Isso foi feito, então, meu pai e a equipe da prefeitura da época puderam rasgar a avenida tal como ela é hoje e trazer até o balão interno que conhecemos e dá acesso ao CCHL, reitoria e outros locais. Então, foi rasgada a avenida, uma grande avenida que é a Nossa Senhora de Fátima, vindo lá da João XXIII até aqui dentro da Universidade com as duas pistas que existem hoje. Isso tudo foi feito em pouquíssimo tempo, entre três e quatro meses”, recorda.
Alterações no projeto inicial
O projeto inicial do Campus seguia o logotipo da Instituição e previa prédios de dois ou três andares, construção de abóbodas como as da feira do Troca-Troca na forma de um grande círculo com uma ramificação radial. As informações são das pesquisadoras Gabriela Fernandes e Alcília Afonso que entrevistaram o arquiteto Ronaldo Pinto Marques, integrante da primeira equipe técnica da Instituição.
Segundo as pesquisadoras, a construção não foi realizada dessa forma porque não houve desapropriação prévia do terreno. Outra proposta era fundir o Campus da Socopo, onde ficam atualmente o Colégio Técnico de Teresina, Centro de Ciências Agrárias e Hospital Veterinário Universitário, com o Campus da Ininga formando uma grande área de preservação ambiental.
Campus atual
Atualmente, funcionam no Campus Ministro Petrônio Portella as unidades administrativas, como reitoria e vice-reitoria, as pró-reitorias, os órgãos suplementares, como restaurantes universitários, Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco, Hospital Universitário e Hospital Veterinário Universitário, e as unidades acadêmicas, que são os centros de ciências, onde estão as salas de aula e laboratórios.
Fontes consultadas:
AFONSO, Alcília; FERNANDES, Gabriela. Ininga: de fazenda a bairro residencial e universitário. Disponível em: < http://extensaoepesquisa.blogspot.com/2012/12/ininga-l-de-fazenda-bairro-residencial.html>.
ARAÚJO, Cristina Cunha de. Trilhas e estradas: a formação dos bairros Fátima e Jóckey Clube (1960 – 1980). Dissertação (Mestrado em História do Brasil) – Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2009.
Servidores homenageados e livro sobre a educação no Piauí marcam solenidade de comemoração dos 50 anos da UFPI
A professora Maria do Socorro Cordeiro Ferreira foi contratada como auxiliar de ensino na Faculdade de Medicina do Piauí em 05 de fevereiro de 1971. Menos de um mês depois, seria implantada a Universidade Federal do Piauí (UFPI), em 01 de março de 1971, e a professora passou a integrar os quadros da nova universidade, em regime de dedicação exclusiva. Quando a UFPI completa seu cinquentenário, a professora chega aos 50 anos e 26 dias dedicados ao ensino, o dobro do que seria necessário para se aposentar da função. “Para mim a sala de aula é um lugar de conforto”, declara.
Socorro Cordeiro é formada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e tem mestrado em Ciências Biológicas - Farmacologia também pela UFC. Integra o Departamento de Bioquímica e Farmacologia do Centro de Ciências da Saúde (originalmente, Departamento Biomédico/CCN) e já assumiu diversos cargos da Administração Superior, como pró-reitora de Extensão e de Assuntos Estudantis e Comunitários, chefe de departamento, coordenadora dos cursos de pós-graduação da PRPPG, coordenadora de Assistência ao Estudante (CAE) e diretora do Núcleo de Tecnologia Farmacêutica (NTF). Como era a professora com mais tempo de universidade em cargo de pró-reitora, também chegou a assumir a Reitoria, quando do afastamento do reitor e vice-reitor em exercício.
Mas o seu lugar favorito sempre foi a sala de aula, junto dos alunos. “Eu gosto de aluno, gosto da minha disciplina. Minha paixão é acolher o jovem que chega com um sonho, cuidar bem desse sonho e, assim, vamos nos alimentando. A universidade são os alunos e o lugar de destaque para mim sempre foi deles”, frisa. O reconhecimento dessa dedicação, ela recebe em homenagens das turmas e pela relação de amizade que perdura após as formações.
Como ministrante da disciplina de Farmacologia, a professora Socorro Cordeiro acolheu sonhos de estudantes dos cursos de medicina, enfermagem, nutrição, farmácia e odontologia. Quando chegou à Faculdade de Medicina, ainda ministrou aulas para a primeira turma de medicina junto com os professores Ludgero Raulino da Silva Neto e Mário Raulino Filho. O vice-reitor da UFPI, professor Viriato Campelo, foi seu aluno.
Ela também fez parte da comissão que possibilitou outro sonho: a criação do curso de Farmácia na UFPI. “Estava em sala de aula quando recebi a notícia da aprovação do curso. Foi uma comemoração grande com alunos e professores”, recorda.
Maria do Socorro Cordeiro Ferreira
Determinada desde jovem, a professora Socorro Cordeiro acumulou mais motivos para comemorar nesses 74 anos de vida. O pai Vidal da Penha Ferreira foi inspiração para gostar de estudar e, mesmo com os recursos limitados, não deixou de acreditar no sonho de graduação da filha. Ela saiu de Teresina sozinha e foi prestar vestibular para a UFC.
A aprovação veio junto com um grande susto: ao fazer o exame para admissão descobriu um problema grave no coração e teve que fazer uma cirurgia de risco em São Paulo. “Quando fui operar do coração, em companhia da minha mãe Zuleide Soares Cordeiro Ferreira, certa que iria morrer, passei por maus pedaços. Quando saí viva, criei uma força que não sabia que tinha. Daí em diante ninguém me fez baixar a cabeça. Eu sempre fui otimista, com muita fé e com uma família muito amorosa. Sempre vivi cercada de amor e fiquei forte”, declara.
Foi essa força que a fez tomar uma decisão que mudaria sua vida. A formatura em Farmácia e Bioquímica pela UFC ocorreria em dezembro de 1969, no mês de agosto do mesmo ano, ela perdeu o pai, seu maior incentivador. A mais velha de 8 irmãos (Gracinha, Concita, Vidal Jr, Pedro, Maria Zuleide, Maria Querubina e Nilson), com a mãe viúva e sem nenhuma renda para manter a família, decidiu vir para o Piauí procurar trabalho. Ela estava convidada a ficar como auxiliar de ensino na UFC, mas considerou que a despesa de duas casas seria mais difícil de manter.
Ao chegar a Teresina, soube da Faculdade de Medicina e foi até lá. “Pedi uma audiência com o diretor Dr. Nodgi Nogueira Filho. Eu disse para ele: meu nome é Maria do Socorro Cordeiro Ferreira, piauiense, recém-formada e o senhor precisa de mim. Eu disse que sabia que precisaria de um profissional assim, mas precisava antes ir para o Rio de Janeiro fazer um curso”, lembra.
O curso era a especialização em Farmacologia, sob orientação do professor Laurp Sollero, pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foram ofertadas seis vagas para todo o país e uma delas foi conquistada pela professora Socorro, única farmacêutica do grupo, os demais eram médicos. O período não foi fácil, mas ela conseguiu concluir a especialização. Ao retornar, assumiu o cargo de auxiliar de ensino na Faculdade de Medicina e lá se vão 50 anos de sala de aula.
“Tenho respeito pela minha história e pelas pessoas que lutam. Sempre tive mais coragem do que medo”.
Ao realizar a cirurgia do coração aos 19 anos, o prognóstico não foi dos melhores. “Eu teria uma vida curta, de uns dois anos. Empreguei bem meu tempo, que Deus foi confiando e me dando mais”, celebra.
Professora Socorro Cordeiro: 50 anos de UFPI em dedicação exclusiva
Em realização a mais uma cerimônia que integra o calendário de comemorações dos 50 anos da Universidade Federal do Piauí (UFPI), aconteceu na manhã desta sexta-feira (05), na área externa da reitoria, devido as medidas protetivas ao COVID-19, uma série de homenagens aos servidores mais antigos da Universidade. Com diplomas e medalhas de reconhecimento, seis servidores técnicos e docentes receberam as importâncias da instituição.
Reitor da UFPI, Gildásio Guedes, com servidores homenageados
Com serviços que se confundem com a fundação e crescimento da instituição, foram eles: o contínuo Francisco Paixão Soares, em atuação no Departamento de Medicina, admitido há 52 anos; a assistente em Administração lotada no Serviço de Atividades Pedagógicas do Colégio Técnico de Teresina, que atua desde 1970; a docente Maria do Socorro Cordeiro Ferreira, do Departamento de Bioquímica e Farmacologia do Centro de Ciências da Saúde, o primeiro docente da Universidade, Antônio Macedo de Santana, do Departamento de Física, do Centro de Ciências da Natureza, que chegou à Universidade em fevereiro de 1972; e dois servidores técnicos que ingressaram na UFPI no mesmo mês daquele ano, o Assistente em Administração, do Departamento de Enfermagem, Francisco Gomes de Araújo; e o Assistente de Laboratório, do Departamento de Parasitologia e Microbiologia, José Ribamar de Oliveira.
O reitor, Gildásio Guedes, considerou que esse foi um momento único em que a UFPI pôde retribuir todo o trabalho em que esses servidores colaboraram para o avanços da Universidade. “São tantas as coisas em que vocês participaram, que só nos resta agradecer. A Universidade sente-se honrada e sempre mereceu os quadros que tem. Pessoas dedicadas aos nossos 50 anos de história”, disse.
Representando todos os homenageados, a professora Socorro Cordeiro Ferreira, lembrou do começo da instituição e como aconteciam as primeiras reuniões, em suas próprias casas, mas como muito apreço. “É de grande satisfação fazer parte dessa Universidade, e vê-la o quanto cresceu. É de muita importância registrar a mudança social em que essa Universidade trouxe para o Piauí e para o Brasil”, afirmou.
Lançamento do livro “Da Serra da Ibiapaba ao Campus da Ininga”, de Luiz Belo
A solenidade contou ainda com o lançamento do livro “Da Serra da Ibiapaba ao Campus da Ininga”, do jornalista Luiz Bello, que foi escrita ainda nos anos 80 e que resgata quase 4 séculos de pedagogia no Estado do Piauí. Praticamente metade do livro fala do processo que deságua no surgimento da UFPI e traz ainda detalhes dos primeiros anos da Instituição. Falecido em 2005, a obra tem como subtítulo “373 anos de pedagogia no Piauí” e já se transformou em uma importante fonte dos que pesquisam a história da educação no estado.
Para tanto o humorista, João Claudio, conhecedor das obras de Luiz Bello, e amigo pessoal, fez as honrarias do lançamento e relatou que a obra traz um profundo conhecimento da evolução da educação no estado. “Acompanhamos muito próximo a vontade de Luiz Bello em publica-la. O autor era um jornalista-historiador, e narra as peculiaridades do povo e do próprio Piauí. Com quase oito anos de pesquisa, ele colheu cerca de 240 entrevistas, com muito método de história oral, e trouxe essa contribuição tão concreta, que estava perdida e que agora nos acrescenta muito. É, talvez, a obra mais completa sobre o processo de evolução pedagógica. A história da educação do Piauí”, afirmou.
João Claudio finalizou considerando que “do Bello tiramos uma lição essencial e última, o amor pelo Piauí. Do livro nós temos uma perspectiva infalível, e que precisa ser lida”.
O jornalista Claúdio Barros, representando Luiz Bello, in memoriam, também recebeu homenagens da UFPI.
A obra tem 457 páginas, divididas em duas partes, como se fossem dois livros autônomos. A primeira mostra a evolução da educação antes da chegada do ensino superior. A segunda parte trata do ensino universitário e do processo que leva ao surgimento da Universidade, até sua primeira década. O texto produzido nos anos 1980 foi revisado pela historiadora e professora da UFPI Teresinha Queiroz e estará disponível para venda a partir desta segunda-feira, na Livraria da EDUFPI.